Uma das advogadas presas por ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital), na deflagração da Operação Courrier, em documento do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) se dizia ‘tranquila’ já que estava escondendo até o tablet do filho, onde ela armazenava informações ligadas à facção criminosa, em uma tentativa de despistar as investigações e possíveis prisões. Quatro advogados acabaram presos durante a operação.
Em uma das conversas, que teve com o advogado que havia consultado por três vezes o nome de um delgado do Estado, a colega teria dito que estava ‘tranquila’. “Eu já estou escondendo”, disse ela para o advogado de profissão em relação ao tablet do filho. A conversa aconteceu após um membro do PCC ligado a Marcos Camacho, o ‘Marcola’, ter avisado de uma possível deflagração de operação contra o núcleo ‘Sintonia do Gravatas’, em Mato Grosso do Sul.
Ainda segundo a denúncia do Gaeco, os advogados conseguiam colher as informações e recados da facção em visitas aos presos no Presídio de Segurança Máxima da Gameleira. Em uma das conversas descritas no relatório do Gaeco, um dos membros do PCC diz que precisa conversar sério, mas que tem de ser fora do celular: “É sério, eu preciso conversar com você, mas tem de ser fora do celular”. No restante da conversa o membro da facção ainda diz: “E o bagulho é sério, eu estava agora à noite com uma pessoa f***”.
Na conversa, um dos alvos ainda diz para a advogada ‘que não queria estar na lista dos mandados de busca’, se referindo à deflagração da operação. Em resposta, a advogada fala que já está escondendo tudo, inclusive, o tablet do filho e, em seguida, dá risada.
Advogados avisados da operação
Os advogados alvos da Operação Courrier, deflagrada pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) no dia 25 de março deste ano, foram avisados sobre a operação que seria para desarticular o núcleo dos ‘Gravatas’ em Mato Grosso do Sul. A investigação identificou 15 advogados ligados à facção criminosa, dos quais quatro foram presos. Também foram presos servidores públicos, que passavam informações aos advogados de ‘recados’.
Segundo relatório do Gaeco, os advogados alvos da operação foram avisados por ‘colegas’ do núcleo. Um dos faccionados do PCC (Primeiro Comando da Capital) ligado a Marcos Willians Herbas Camacho, o ‘Marcola’, enviou um ‘salve’ relatando sobre uma Operação que iria atingir o núcleo dos advogados.
Uma das advogadas avisadas sobre a operação que estava para ser deflagrada teria dito que estava ‘tranquila’. “Eles (Gaeco) não têm provas ainda”, afirmou. A informação também teria sido repassada ao advogado que tinha consultado o nome do delegado do Estado a pedido de um colega, que faz a defesa de um dos presos da Omertà.
Advogados e Viagem a Bonito
O ex-chefe de cartório da 1ª Vara de Execução Penal de Campo Grande, que passava informações privilegiadas, como decisões judiciais, manifestações e procedimentos administrativos instaurados em presídios, ganhou viagem a Bonito como ‘presente’ de uma das advogadas do núcleo ‘Sintonia dos Gravatas’.
O presente foi dado após ele fornecer informações, entre elas uma ‘Cota’ do Ministério Público, que tratava da transferência de um dos membros do PCC, ligado a Marcola. A notícia ainda foi difundida em grupos dos ‘Gravatas’, o que causou indignação entre alguns pelo modo como a advogada estava captando de forma ilícita clientes.
Advogado consultou nome de delegado
A consulta ao nome do delegado aconteceu na noite do dia 2 de julho de 2021, após ele citar nomes da alta cúpula da Polícia Civil em audiência, no dia 30 de junho, quando deu detalhes da sua retirada das investigações de homicídios investigados pela força-tarefa da Omertà. Já no dia 2 e na madrugada do dia 3 de julho, o nome do delegado foi pesquisado por três vezes.
A consulta acabou sendo descoberta. Ela foi feita pelo advogado — que tinha uma senha fornecida por um ex-chefe de cartório — preso durante a deflagração da operação que levou para a cadeia 15 advogados que trabalhavam para a facção criminosa. Na época da consulta, o advogado chegou a dizer que havia feito a checagem para tentar encontrar o telefone do delegado, já que tinha informações para passar sobre o PCC. Ele ainda chegou a dizer que usava essas informações para sua ‘atividade profissional’.
Ainda segundo informações, o advogado teria feito a consulta a pedido de um colega de profissão que seria defensor de um dos presos na Operação Omertà e que faria parte do grupo de advogados que prestam serviços de mandar recados e encaminhamento de ‘salves’ do PCC. Neste grupo estariam incluídos sete advogados. O grupo dos ‘Gravatas’ administrariam as contas bancárias e o dinheiro do PCC.