Mato Grosso do Sul se vê diante de um novo surto de dengue, como ocorrido em 2019 e 2020. A circulação de uma nova cepa em conjunto com a faixa etária e maior número de infectados confirmam a característica cíclica da doença e explicam o aumento de casos, já superiores ao total registrado no ano passado. Na Capital, por exemplo, foram 4.210 notificações até a última terça-feira (10), sendo mais de mil casos confirmados da doença.
Um levantamento realizado pela pesquisadora da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), Zoraida Fernandez Grillo, de 55 anos, com dados disponibilizados por secretarias municipais de Saúde, apontam que as pessoas entre 10 e 39 anos são as de maior contágio, seguidas por aquelas entre 40 a 49 anos e, por último, pessoas acima dos 60.
De acordo com a pesquisadora, esses dados, quando analisados, indicam um novo surto da doença, também reforçado pela característica da doença que, apesar de endêmica, é considera cíclica, ocorrendo “de tempos em tempos”.
“O número de casos [de infectados] não permanece constante. Há períodos em que o número é maior e outros em que é menor”, comentou Grillo ao Jornal Midiamax. Ainda de acordo com a pesquisadora, nos últimos dois anos, foi possível observar um surto da doença por conta do ‘sorotipo 2’, prevalecendo no Estado até o início de 2022.
“Nesse período houve um importante número de casos, devido ao número de pessoas susceptíveis. Porém, na medida que foi diminuindo o número de pessoas susceptíveis, também foi diminuindo o número de casos de dengue 2, adicionalmente, o sorotipo 1, que estava circulando pouco na região, começou a afetar a população”, explicou.
Em resumo, a alta nos casos de um sorotipo aumenta a imunidade da população, gerando uma queda nas infecções. Entretanto, esse mesmo fenômeno faz com que outro sorotipo se fortaleça, encontrando pessoas suscetíveis à nova cepa.
Dados epidemiológicos mostram novo ciclo da dengue
Dados da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) confirmam o cenário retratado pela pesquisadora. Em 2016, foram registrados 5.061 casos em Campo Grande, já no ano seguinte os números caíram, registrando apenas 812, ou seja, uma diminuição de 83%.
A média se manteve baixa em 2018, com 1.307 casos confirmados. Já em 2019, o número saltou para 35.350, um aumento de 3.308%. Em 2020, os casos voltam a cair para 13.322, e novamente em 2021, quando foram registrados apenas 444. Neste ano, foram registrados 1.280 casos nos primeiros cinco meses, apontando um novo ciclo de dengue.
Para a pesquisadora da Fiocruz, a faixa etária que ocupa o maior número de infecções é um dos fatores que explica a nova cepa. Pessoas que possuem de 10 a 39 anos ocupam de 17% a 19% do número de contaminados em todo Mato Grosso do Sul. Aqueles entre 40 e 49 representam 14% dos infectados e aqueles com mais de 60 anos representam 6%. O restante é dividido entre outras faixas.
“Acredito que [esses casos] estão associados ao número de pessoas susceptíveis nessa faixa etária. Muito provavelmente [elas] nunca tiveram contato com esse sorotipo por isso a maior taxa de infecção”, explicou Grillo, ao frisar que outros fatores podem estar associados e devem ser analisados com maior cuidado.
Infectologista diz que vírus circula porque muita gente ainda não está imune ao novo sorotipo
A infectologista Priscilla Alexandrino faz um paralelo com outras doenças para explicar o fenômeno. “As pessoas já possuem imunidade [de outras doenças] e não existem novas variantes, então está circulando menos, porque muitas pessoas já estão imunes. Já na dengue temos um novo sorotipo, uma nova variante mais transmissível, o vírus que está circulando atualmente”, comentou.
Grillo ainda reforça que os ciclos de transmissões da dengue devem seguir nos próximos anos, pois todas as variantes possuem um mesmo vetor: o mosquito Aedes aegypti. “Enquanto existirem fatores que favoreçam a abundância do mosquito vetor e enquanto existam pessoas susceptíveis, a transmissão continuará a acontecer”, disse.
Mapa da dengue em Campo Grande mostra evolução mensal
Mesmo que um dos bairros de Campo Grande, o São Bento, não tenha registrado notificação de casos de dengue, nas 17 semanas de monitoramento, o número acumulado de casos é altíssimo, incluindo 4 casos graves, podendo ser eles hemorrágicos e 3 mortes, conforme a Sesau.
Se o olhar levar em conta as notificações mês a mês, nota-se, claramente, uma evolução. Em janeiro foram 570 notificações, em fevereiro, 526, em março mais que dobrou, foi para 1.369, já em abril foi para 1697. Em maio, até o dia 10, são 48 notificações.
Conforme o mapa da dengue, oito bairros estão com índice de infestação ‘muito alto’. São eles: Chácara dos Poderes, Nova Lima, Noroeste, Novos Estados, Maria Aparecida Pedrossian, Rita Vieira, Jardim Panamá e Tiradentes. Analisando o mapa, percebe-se que a maioria desses bairros está na região nordeste da cidade.
Outros oito bairros estão com índice de infestação considerado baixo. São eles: Aero Rancho, Autonomista, Parque do Lageado, Chácara Cachoeira, Jardim Paulista, Tarumã, Vila Carvalho e Batistão. Apenas um bairro está com índice de infestação zero, o São Bento, próximo à região central da cidade.
Nova dengue ‘cosmopolita’ preocupa autoridades de MS
A chegada de um novo ‘genótipo cosmopolita sorotipo 2’, da dengue, já preocupa autoridades sanitárias em Mato Grosso do Sul. O vírus foi detectado por pesquisadores da Fiocruz, pela primeira vez no Brasil. Em Campo Grande, de acordo com a Sesau, uma força-tarefa em 7 regiões da cidade busca eliminar focos da doença.
“Esse genótipo é mais transmissível e mais patogênico. Atualmente, temos o mesmo número de casos de dengue do que todos os casos registrados no ano de 2021. E estamos somente no mês de maio ainda, portanto, trata-se de uma epidemia”, afirmou ao Priscilla Alexandrino.
A secretaria está realizando ações de manejo e orientação nos bairros de Campo Grande, com inspeção em imóveis e terrenos, além da eliminação de criadouros e focos. Seguindo um cronograma, a primeira etapa termina no próximo sábado (14), em 7 regiões da cidade. Em seguida, o serviço começa em outros bairros e vai até o mês de agosto.
Vacina contra a dengue
De acordo com o Instituto Butantan, pessoas que já tiveram dengue podem ser reinfectadas por outro subtipo do vírus e se contaminar com uma variante mais grave da doença, por isso a vacina é uma medida de prevenção importante, pois é feita com os quatro tipos de vírus da dengue enfraquecidos.
Apesar de importante, o imunizante para prevenir a doença ainda tem acesso restrito e pode ser encontrado somente na rede particular de saúde.
Em Campo Grande, as vacinas contra a dengue podem ser encontradas somente em clínicas de imunização, de maneira particular. Na Clínica de Vacinação Vaccine Care, a vacina pode ser encontrada por R$ 170, no dinheiro, Pix ou débito e R$ 180 no cartão de crédito. Já na Imunne Life Clínica de Vacina, o valor normal do imunizante é de R$ 315, com convênio médico pode chegar a R$ 283 e R$ 267, à vista.
Na clínica Saúde Livre Vacinas, o valor da vacina é de R$ 295 e na Clínica Vaccini, o imunizante sai por R$ 300 no crédito e R$ 261, à vista.
Medidas de prevenção
Para prevenir a transmissão da dengue, é fundamental evitar água parada em pneus, garrafas, vasos de planta e recipientes que possam contribuir para a reprodução do mosquito. Confira algumas recomendações do Ministério da Saúde para evitar a doença:
- Tampar tonéis d’água;
- Manter calhas limpas;
- Manter garrafas ou recipientes de boca para baixo;
- Limpar e trocar areia dos vasos de planta semanalmente;
- Manter lixeiras tampadas;
- Preservar ralos limpos.
Com informações do site Midiamax!