Não pode criminalizar pobre, diz coronel da PM sobre ‘racha’ com Guarda

Quase 12 horas após a divulgação do vídeo em que aparece batendo boca com guardas civis metropolitanos na esquina da Avenida Afonso Pena com a Rua 13 de Maio, no Centro de Campo Grande, o comandante da Polícia Militar na região, tenente-coronel Claudemir de Melo Domingos, enfim se posicionou publicamente sobre o episódio. De maneira enfática, taxou o episódio como uma ” criminalização da pobreza.”

“Os abusos tem que parar, não podemos mais admitir que pessoas sejam privadas da liberdade de ir e vir sem justa causa, mesmo que por um ou 15 minutos”, disse Domingos, por meio de mensagem de celular divulgada em grupos para divulgação dos trabalhos da Polícia Militar.

“A PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul) tem 185 anos e seus policiais são preparados para defender nosso povo e seu patrimônio, não podendo coadunar com violência e arbitrariedade, por isso criminalizar o pobre é crime contra a dignidade humana, somente assim evoluímos, doa a quem doer”, completou o comandante da corporação na região central.

Uma abordagem a dois suspeitos de furto de fios das obras do Reviva Centro terminou em confusão entre Polícia Militar e Guarda Civil Metropolitana na noite do último sábado (14). Segundo registro da ocorrência feito na Depac do Centro, Domingos alegou que estava à paisana (com roupas civis) quando observou uma equipe da Guarda abordar dois jovens, de 37 e 21 anos, que estavam no canteiro central da Afonso Pena, de maneira troculenta.

Ainda de acordo com o relato do tenente-coronel no BO, a ação da corporação municipal durou mais de 15 minutos e foi agressiva. Ele relata que os dois abordados foram ameaçados, de que “seriam baleados na perna se fossem visto no Centro” e apanhariam, pois seria proibido pedir dinheiro a motoristas nos semáforos da via.

Segundo imagens divulgadas por integrantes da Guarda (veja abaixo) na última quarta, foi o estopim para um bate-boca entre as duas corporações na principal via da cidade. Sem saber se tratar de um tenente-coronel da PM, um superior da força municipal teria inclusive sacado sua arma, enquanto tropas de elite da força estadual, como o Batalhão de Choque, foram chamados.

O caso foi registrado como ameaça, usurpação de função pública, exercício arbitrário de atividade e abuso de autoridade. Como prova, Domingos anexou imagens gravadas de seu celular do momento da abordagem que provam a violência da Guarda no episódio. Por enquanto essas imagens são mantidas em sigilo, pois as corregedorias tanto da PM quanto da força municipal estão investigando as denúncias.

Correio do Estado apurou com oficiais da PM que Domingos e outros policiais do serviço reservado do Batalhão do Centro, que atuam sem farda, investigavam justamente abordagens ostensivas ocorridas com moradores de rua no Centro da Capital. Há relatos de agressões em plena Afonso Pena, que chocaram pessoas que passavam pelo local. Acontece que foi a Corregedoria da PM a ser acionada, por uma confusão das pessoas.

“As fardas são parecidas, para a população em geral, PM e Guarda é tudo a mesma coisa. Precisávamos tirar essa história a limpo”, disse um dos policiais ouvidos. Segundo ele, todo o material investigado será levado a Valério Azambuja, secretário municipal da Segurança e Defesa Social.

Na avaliação do Comando-Geral da PM, o fato de que fiações suterrâneas das obras de requalificação viária e urbanística do Centro terem sido alvos de furtos na última semana, levando ao reforço da segurança pela Guarda nas intermediações, provocou o efeito colateral de violência contra moradores de rua.

Na última quarta, o presidente do sindicato da Guarda Civil Metropolitana, Hudson Pereira Bonfim, falou sobre o episódio e classificou como “aberração jurídica” a atuação do tenente-coronel, que rebateu as críticas recebidas.

“Quanto ao caso da GM o que posso garantir a vocês que o dito pelo presidente do sindicato GM Bonfim é tudo uma mentira e falácia,  jamais eu faria o mau a sociedade, estou apenas defendendo justamente a democracia o respeito à Constituição Federal e a ordem pública. Os senhores me conhecem e sabem que temos que ser legalistas e respeitar os limites das instituições, mantendo o controle das ações dos órgãos para que não haja abusos contra a vida e ao patrimônio das pessoas. Não há nada pessoal contra uma ou outra instituição”, disse.

Fonte: Correiodoestado
Foto: Reprodução