A ideia de transformar o modelo de clube associativo em clube empresa no Brasil, aos poucos, vai perdendo força. A cada reunião de dirigentes na sede da CBF, fica mais claro que a intenção de fazer disso uma lei está longe de ser o desejo das agremiações. A intenção de parlamentares que defendem o projeto era de colocar a proposta em votação em Brasília ainda este semestre, mas os clubes demonstram não ter a menor pressa.
Nesta quinta-feira, cartolas que compõem a Comissão Nacional de Clubes da CBF se reuniram na sede da entidade, no Rio, em um novo encontro para debater o assunto. Eles convidaram dirigentes de agremiações das quatro divisões do Campeonato Brasileiro, e alguns participaram até por videoconferência. Foi consenso entre eles de que um projeto desse porte precisa ser mais debatido.
Mesmo que os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, e do Senado, David Alcolumbre (ambos do DEM), já tenham feito visitas à CBF para falar sobre o tema, entre os dirigentes existe um incômodo pelo fato de os clubes terem ficado de fora da concepção do projeto de lei.
“Essa não é uma demanda que surgiu do futebol, não começou uma discussão através dos clubes. Essa discussão foi trazida de fora pra dentro, então acho que falta até legitimidade pra isso”, declarou nesta quinta o presidente do Vasco, Alexandre Campello, que serviu como porta-voz do grupo após a reunião na CBF.
Campello afirmou que a proposta, se de fato for transformada em lei, não deverá ter muita adesão. “O que a gente observa é que a maioria dos clubes, principalmente os grandes, não têm a intenção de se transformar em empresa”, declarou.
“Eu tenho o entendimento de que essa questão varia muito de país para país. Depende muito da condição fiscal de cada país, da cultura do povo. Você pegar um clube nos Estados Unidos e ser empresa, você tem uma legislação que é completamente diferente da brasileira, lá é uma cultura de que o clube é feito para arrecadar. Aqui nossa cultura não é essa, a arrecadação deve ser revertida em investimento para que a equipe seja cada vez mais forte. O próprio torcedor, ele não vê o clube com um dono. A maioria dos clubes não estaria propensa hoje a virar empresa”, sustentou Campello.
Ele disse que os cartolas que se reuniram nesta quinta-feira têm muitas dúvidas sobre as consequências da proposta que deve tramitar na Câmara. “Existe um consenso de que há uma insegurança grande nas alterações propostas para o clube empresa, especialmente na parte trabalhista, na parte fiscal, na manutenção da isenção fiscal para os clubes que são associações sem fins lucrativos. Na parte de recuperação judicial também há uma insegurança muito grande”, comentou. “A nossa opinião é que deve ser mais amplamente discutido, e talvez antes disso que fossem aprimoradas as leis que aí estão, principalmente na parte trabalhista.”