Cemitérios já começam preparativos para dia de Finados

Na manhã de quinta-feira (31), a movimentação nos cemitérios municipais Santo Antônio, Santo Amaro e São Sebastião (Cruzeiro), em Campo Grande, era semelhante: parentes percorrem os locais para visitar e cuidar de túmulos de entes queridos, enquanto trabalhadores contratados varrem, escovam e limpam. No lado de fora, bancas com flores, velas e ornamentos a serem vendidos para visitantes começam a ser montadas. Até o Dia de Finados, celebrado no dia 2 de novembro, os preparativos para receber a multidão de pessoas que homenageiam pessoas queridas falecidas devem continuar.

No cemitério Santo Antônio, na Vila Santa Dorotheia, apesar de mais tranquila, as atividades de limpeza começaram cedo. Na última semana, trabalhadores ligados à Prefeitura capinaram o local, que nos últimos dias passam por preparativos menores. Na manhã de hoje, a movimentação era de vassouras e trabalhadores, com o intuito de garantir a limpeza adequada nas vésperas do Dia de Finados. Para a faxineira Tereza Matias, de 72 anos, que trabalha no cemitério, o cuidado é redobrado durante os dias que antecedem a data. “Aqui hoje é uma correria, estamos fazendo a preparação para esperar quem vem visitar o túmulo de parentes. Cuido da limpeza todos os dias, mas a data é especial, merece mais cuidado”, afirma.

No lado de fora, bancas de ambulantes começam a ser montadas. Alguns chegaram dias antes para garantir pontos estratégicos na entrada, além de poder escolher locais com a cobiçada sombra das árvores. 

Durante os últimos 12 anos, Cleusa Correia, 54 anos, chegou cedo para escolher um bom ponto para montar sua banca na frente do cemitério Santo Antônio. A oportunidade é de receber uma verba extra através da venda de velas, flores artificiais, fósforo e água, já expostos na banca de dona Cleusa, que preferiu deixar para levar as flores reais somente no dia do feriado devido ao calor. “Estou aqui tem 3 dias, achei esse lugar e já trouxe as coisas. Espero que as vendas sejam boas, geralmente elas são. É o jeito que arranjei para conseguir um dinheiro a mais”, explica. 

Luzia Evangelista, de 68 anos, vem há 25 anos cuidar do túmulo da filha mais velha, que faleceu em um acidente de ônibus, enterrada no Cemitério São Amaro. Ao lado do marido, Antônio, Dona Luzia limpa com dedicação o túmulo em dias comuns e principalmente antes do Dia de Finados. O amor de mãe é percebido no esmero empregado nas tarefas de varrer, tirar a poeira e lavar a lápide. “Vim hoje para preparar aqui para o dia de finados, trazer flores. Por 21 anos minha filha conviveu com a gente, foi nossa felicidade. Essa é a homenagem que posso fazer para ela”, conta a aposentada.

As irmãs e ambulantes Ana da Silva, 58, e Maria Roberta, 67, já montaram suas barracas, uma ao lado da outra, na frente do Cemitério São Sebastião. Otimistas, esperam boas vendas e, consequentemente, renda extra. “Hoje ainda está meio devagar, mas já estamos fazendo venda. Chegamos mais cedo para segurar o lugar, muita gente monta banca pra fazer venda aqui. É melhor chegar mais cedo para pegar um bom lugar”, explica Ana. Para Maria Roberta, o dinheiro das vendas auxilia no pagamento das contas. “Essa venda é por poucos dias mas ajuda muito no pagamento das contas do fim do ano”, afirma. Com irmãos, pais, avós e tios enterrados no cemitério em que vendem flores durante essa semana, Maria Roberta afirma que há pouco cuidado com a estrutura do espaço. “Eles não cuidam, é bem arrebentado. Também não tem segurança nenhuma, todo dia vândalo pula o muro baixo, o acesso é muito fácil. Quebram, depredam e ninguém faz nada a respeito”, conclui. 

FALTA DE SEGURANÇA  

Os três cemitérios municipais da Capital têm sido recorrentemente alvo fácil para ladrões, que levam peças e decorações dos túmulos para serem vendidos e, com frequência, trocados por drogas e entorpecentes. O cemitério Santo Antônio, fundado em 1914, sofreu um “arrastão” no último dia 24. Vasos de cobre, ornamentos, fotos e até lápides foram furtados. Até uma estátua de cobre de Jesus foi retirada do local em que estava instalada, mas acabou não sendo levada possivelmente pelo peso do objeto. 

Os roubos aconteceram nas 41 mil m² da área do local, que pode abrigar cerca de 14,5 mil sepulturas. Tentando reverter a situação antes do dia dos finados, familiares pagaram trabalhadores para solucionar os danos nos túmulos dos entes enterrados no cemitério. Ao longo da manhã, a movimentação também incluía a reposição de grades, vasos e estátuas, inclusive a de Jesus, que por pouco não foi furtada. 

No cemitério São Sebastião, a situação não é diferente. O aposentado Alcino Sabino, de 76 anos, foi surpreendido ao chegar para limpar o túmulo dos pais, enterrados no local, e encontrar depredação, peças quebradas e outras faltando. “Não foi só no túmulo dos meus pais, ao redor tinham vários depredados. Eles roubaram também a minha paz de espírito, isso deixa a gente revoltado.  Fiz orçamento e para consertar fica R$1800. Não temos segurança nem na morte”, desabafa.