Por anos conhecido como o ‘Rei da Fronteira’, o narcotraficante sul-mato-grossense Jarvis Chimenes Pavão constitui patrimônio superior a R$ 352 milhões por meio do envio de cargas de maconha e cocaína, bem como armas ao Brasil. Nesta quinta-feira (27), ele e seus familiares foram alvos da Operação Pavo Real, desarticulada pela Polícia Federal com objetivo de atacar o núcleo financeiro da organização criminosa que ostentava vida de luxo.
Segundo o delegado da PF Elvis Secco, o objetivo da ação foi sufocar o sistema financeiro do esquema. Mesmo preso, Pavão continuava a articular seus negócios ilegais por meio do núcleo familiar constituído pela mãe, padrasto, irmã, genro, esposa e os filhos, sendo que os filhos despontavam como naturais sucessores do pai. Pavão usava empresas de fachada, casas de câmbio e laranjas para lavar dinheiro e ocultar bens oriundos do tráfico.
“Apreensão de drogas e prisão de membros do baixo escalão da organização não são o bastante para desarticular o tráfico, temos que mirar as lideranças. A apreensão é o risco para o negócio do traficante, mas quando conseguimos identificar laranjas, empresas de fachadas e bens, e apreender o dinheiro, realmente causamos prejuízo” explicou o delegado. “Foi uma ação contra o tráfico que não apreendeu uma grama de droga”, destacou.
Por sua vez, o delegado federal Leonardo Marino Gomes dos Santos explicou que, neste sentido de dar foco à apreensão dos bens, a fim de impossibilitar a continuidade dos trabalhos da quadrilha, foram expedidos 67 mandados de busca, 16 de prisão preventiva, cinco de prisão temporária e cinco de prisão domiciliar. Os casos de prisão domiciliar envolvem mulheres investigadas que têm filhos pequenos e que não poderiam deixá-los sós.
Marino pontuou que Pavão exerceu influência ao longo de anos controlando o tráfico na fronteira. Inclusive, entrou em rota de colisão com facções rivais e chegou a ser apontado pela polícia paraguaia como um dos envolvidos na execução de Jorge Rafaat Toumani, outro traficante morto em emboscada em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o município sul-mato-grossense de Ponta Porã, a 346 quilômetros de Campo Grande.
Pavão estava preso desde 2009, quando esteve na penitenciária de Tacumbu, no Paraguai, onde transformou sua cela em verdadeiro hotel de luxo. Em 2017 foi trazido ao Brasil e enviado ao presídio Federal de Porto Velho (RO) e em 2019 foi encaminhado para o presídio federal de Brasília (DF). “As investigações começaram em 2019, quando foi identificada vida de luxo dos familiares dele, mas que não que era compatível com a renda que tinham”, disse Marino.
Ou seja, Pavão e familiares continuavam a desfrutar do patrimônio adquirido por meio do tráfico. Apreensões de documentos em outra operação deflagrada ano passado, mostrou que o grupo recebia mesadas e contava com dinheiro de casas de câmbio que era enviado ao exterior. Foram identificados mais de 300 imóveis em nome de Pavão e ao menos 17 veículos de alto luxo. No entanto, foram bloqueados por enquanto 50 imóveis, no valor de R$ 52 milhões, bem como R$ 300 milhões na conta de 96 investigados. As investigações continuam na tentativa de elencar todos os bens adquiridos pelo grupo.
Operação Pavo Real
Para desmantelar uma quadrilha de lavagem de dinheiro vinda do tráfico de drogas, a Polícia Federal deflagrou nesta quinta-feira, a operação Pavo Real, com cumprimento de mandados em Mato Grosso do Sul e outros três estados brasileiros. São ao todo 88 mandados de prisão e busca e apreensão.
Foram cumpridos 21 mandados de prisão, sendo 16 preventivas e 05 temporárias, e 67 mandados de busca e apreensão, nos estados de Rondônia, Mato Grosso do Sul, São Paulo, Santa Catarina e Distrito Federal. Todos expedidos pela 3ª Vara da Justiça Federal em Rondônia, especializada em crimes praticados por organizações criminosas, contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro. Cinco pessoas investigadas tiveram as prisões convertidas em domiciliar.
Em Mato Grosso do Sul, os mandados estão sendo cumpridos nas cidades Ponta Porã com mandados de 4 prisões preventivas e 2 temporárias e em Campo Grande mandados de 2 prisões preventivas. Na fronteira de Ponta Porã com o Paraguai, os investigados se associaram para a perpetuação e controle do tráfico internacional de drogas em uma “guerra” contra facções e organizações rivais.