Apesar da morte de um jovem de 25 anos e da viralização das imagens dramáticas de candidatos desmaiando em meio aos testes físicos realizados nesta quinta-feira (03), os organizadores do concurso para soldado e oficial da Polícia Militar e dos Bombeiros de Mato Grosso do Sul mantiveram as baterias de testes nesta sexta-feira no Centro Olímpico da Vila Nasser, na região oeste de Campo Grande. E, toda a estrutura está mantida para mais um dia de exames para este sábado (5).
Nesta sexta-feira os testes acabaram por volta das 11 horas e, segundo a administração da Vila Olímpica, não houve novos registros de candidatos que tenham sofrido problemas de saúde semelhantes aos do dia anterior, quando pelo menos cinco pessoas sofreram desmaios e tiveram de ser socorridas pelas equipes de saúde que ficam de prontidão no local.
Os testes, que começaram na segunda-feira, são realizados por ordem de chegada e por isso dezenas de candidatos madrugam no local, justamente para fazer os exames nas primeiras horas do dia, quando a temperatura e a umidade do ar são mais favoráveis.
Embora tenha alguns locais de sombra na Vila Olímpica, não foi montada estrutura para abrigar os candidatos enquanto esperavam sua fez para fazer os testes. As arquibancadas de concreto ficam a manhã inteira expostas ao sol. Então, quem quisesse sentar na sobra era obrigado a sentar no chão.
No local existem bebedouros com água gelada, mas nenhum vendedor foi autorizado para vender salgados ou frutas, algo que poderia melhorar as condições físicas dos candidatos, dos quais foi exigido atestado médico indicando que estavam aptos a serem submetidos aos testes de esforço físico.
Nas imediações também não existe nenhuma lanchonete ou restaurante no qual os concorrentes desprevenidos pudessem comprar algum alimento. Por dia, cerca de 400 candidatos foram convocados e o tempo de espera chegou a mais de sete horas.
Os candidatos e candidatas que desmaiaram na quinta-feira, quando os testes de aptidão física se estenderam até por volta das 13 horas, estavam participando da corrida de 2,4 quilômetros em uma pista de terra e com muita poeira, já que não chove em Campo Grande desde a primeira quinzena de junho.
O jovem que morreu, Arthur Matheus Martins Rosa, de 25 anos, morava em Goiás e estava em Campo Grande somente para buscar uma vaga no serviço público em Mato Grosso do sul.
O concurso está sendo organizado pela Secretaria de Estado de Administração, que não se manifestou sobre a possibilidade de cancelamento das provas realizadas na quinta-feira e nem sobre a possibilidade de adiamento dos testes previstos para esta sexta-feira e sábado.
Em nota, o governo do Estado de Mato Grosso do Sul informou que “lamenta profundamente o óbito ocorrido em decorrência do TAF (Teste de Aptidão Física) da prova da Polícia Militar, de um candidato de 25 anos oriundo do Estado de Goiás, e informa que já determinou que sejam tomadas as devidas providências para esclarecer o fato, com compromisso de apurar as possíveis negligências e responsabilidades.
Apesar de todo arcabouço legal que as provas de teste físico requerem, bem como todo cuidado e responsabilidade pela aplicação da mesma é necessário uma apuração célere que não deixe margens para novas tragédias, motivo pelo qual já iniciou uma apuração isenta e objetiva.
O governo de MS se solidariza com familiares e amigos do candidato que teve seu sonho de ingressar nas forças de Segurança Pública interrompido, e prestará toda assistência necessária neste momento de luto.
O concurso
No concurso da PM, foram oferecidas 520 vagas para os cargos de Soldado e Oficial, para pessoas com nível superior de escolaridade.
Segundo uma das mulheres que fez a prova e que não quis se identificar, a organização deixou muito a desejar. “Quando as meninas dos bombeiros fizeram a prova, na segunda (31), descobrimos que a ordem seria dada pela chegada e não por ordem alfabética. Com isso, nos demais dias as pessoas foram chegando cada vez mais cedo”, disse.
Ela conta, ainda, que chegou por volta das 4h e já tinham muitas pessoas para fazer a prova na sua frente.
“Quem chegou cedo e correu até às 9h pegou um clima de boa, está seco, mas dava para correr normal. Depois desse horário as condições iam piorando muito e de fato ficando insalubre”, relatou.
Além de toda a problemática em torno da falta de organização, quinta-feira foi o dia mais quente deste inverno em Campo Grande.
Os termômetros chegaram a 33,1°C, segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). A tendência, no entanto, é que de hoje até segunda-feira os valores sejam ainda maiores.
Além das temperaturas elevadas, há a baixa umidade relativa do ar. Nesta semana, Campo Grande teve mínima de 20% de umidade, índice considerado de alerta.
A reportagem questionou a Secretaria de Administração sobre a questão do clima desfavorável para a realização de testes de aptidão física, mas não houve resposta sobre isso.
Durante evento na manhã desta sexta-feira, a assessoria do governador Eduardo Ridel determinou que a imprensa poderia fazer somente duas pergundas e teriam que ser específicas sobre o tema da agenda, que foi o repasse de recursos para entidades de assistência à saúde.
Com informações do Correio do Estado!