O presidente Jair Bolsonaro decidiu partir para o contra-ataque, após o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), abandonar a articulação política do governo. O chefe do Executivo federal usou as redes sociais para pressionar o Congresso a aprovar as reformas governistas. A estratégia é devolver a pressão imposta pelo Centrão ao Palácio do Planalto, entornando o caldo sobre o parlamento e jogando sobre os congressistas a responsabilidade pela geração de emprego e renda.
A economia brasileira está estagnada. Os índices de desemprego continuam altos e a geração de postos de trabalho é pior do que em relação ao ano passado. Mas, em vez de tomar medidas efetivas para mudar esse quadro, Bolsonaro busca lavar as mãos e deixar que o parlamento lide com a fervura junto à sociedade. “Não esqueçamos que precisamos do Congresso para que possamos, definitivamente, decolar economicamente e realizar as tão necessárias transformações econômicas que o Brasil precisa”, escreveu, ontem, no Twitter. Na vida real, contudo, o governo não faz as articulações que deveria.
O Planalto tenta, ainda, se isentar dos protestos que começam hoje com a greve nacional na educação. O discurso é de que a aprovação da reforma da Previdência, em tramitação no Congresso, pode descontingenciar os recursos cortados de universidades e instituições educacionais. Intrinsecamente, é uma resposta à convocação feita pela Câmara para que o ministro da Educação, Abraham Weintraub, explique hoje, no plenário, o contingenciamento.
A pressão feita por Bolsonaro passa, simultaneamente, pela articulação do líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). O deputado conseguiu, ontem, na reunião do colégio de líderes, o encaminhamento de medidas provisórias (MPs) no plenário da Casa, incluindo a 870, que trata da reforma administrativa. Com Maia em viagem a Nova York, a maioria decidiu não pautá-las. Vitor Hugo usou da estratégia de Bolsonaro e jogou no colo do Centrão o ônus da decisão. “Agradeço aos líderes do PSL, Pros, PSC, Cidadania, Novo, PV, Podemos e Patriotas por terem apoiado o governo na ideia de avançar na votação das pautas de interesse do país, na nossa visão”, disse, no Twitter.
Líderes dos partidos citados por Vitor Hugo foram com ele à reunião com Bolsonaro no Planalto, classificada pelo parlamentar como “excepcional”. “(São) movimentos de aproximação. Continuaremos a defender a integralidade da MP (870) e que elas (MPs) sejam incluídas na pauta o quanto antes”, sustentou. A articulação feita pelo deputado agrada Bolsonaro, mas é avaliada pelo Centrão — ligado a Maia — como perigosa, uma vez que associa a interlocução feita por ele como a de um líder do PSL a serviço do presidente, não do governo.
Desconforto
Os movimentos de Bolsonaro não passaram batidos. Pelo Contrário. Maia, por exemplo, não deixou barato o tuíte de Bolsonaro e a interlocução de Vitor Hugo. De Nova York, em palestra para investidores e empresários, sugeriu que a falta de clareza da agenda política do governo dificulta a aprovação das reformas. “Ainda não compreendemos, olhando a longo prazo, quais são as políticas que esse governo trouxe para sobrepor os 13 anos de governo do PT, que trouxe uma agenda que foi muito criticada, inclusive pelo DEM”, declarou.
O presidente da Câmara ressaltou aos investidores que não é o Democratas que está no governo, mas a “direita mais extrema”. “E, até agora, a gente não entendeu qual é essa agenda. Esse, também, é um outro problema”, frisou. “Se a gente sabe como tirar algo que se esgotou, mas a gente ainda não sabe o que colocar no lugar, isso, também, gera certo desconforto na relação entre os Poderes, porque o deputado vai votar uma matéria como a Previdência e quer entender como essa votação vai gerar um impacto na melhoria da qualidade de vida dos seus eleitores.”
A estratégia de embate governista não é a melhor para o momento e pode impor derrotas ao governo nas próximas semanas, analisou o cientista político Enrico Ribeiro, coordenador legislativo da Queiroz Assessoria em Relações Institucionais e Governamentais. “As ações de Maia são respostas à dubiedade do governo, que sinaliza de um jeito em um momento e muda a interpretação, em outro. O governo nasceu e vive do conflito, mas esse não é o momento de mantê-lo”, alertou.
Fonte: Topmidianews
Foto: Marcelo Camargo / Agência Brasil