Casos de feminicídio aumentam em MS; pandemia pode ter contribuído

As delegadas Maíra Pacheco Machado e Anne Karine da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM), falaram com a imprensa na manhã desta sexta-feira (11), sobre os feminicídios de Dulci da Silva Martinelle, 80 anos, e Fabiana Lopes dos Santos, 37 anos, mortas nas últimas semanas em Campo Grande.

A idosa, que morreu no Tarsila do Amaral veio a óbito por asfixia, segundo a delegada Maíra, a vítima registrou um boletim de ocorrência dia 20 de setembro por ameaça e contravenção das vias de fato, e solicitou medidas protetivas contra Vicente Mendes de Campos. “No dia 10 de outubro ela foi ouvida no inquérito policial e reafirmou tanto as agressões quanto a ameaça, mas no início de novembro ela foi até a Defensoria pedir a revogação das medidas protetivas”, explicou.

“Quando o pedido de revogação chegou na 3ª Vara de violência doméstica, a Dra. Jaqueline, antes de revogar pediu um estudo social do caso. Foi tentado contato com a vítima e quem atendeu o telefone foi o Vicente, no dia 24 de novembro as assistentes sociais e as psicólogas não conseguiram esse contato, e 30 de novembro ela veio a óbito”, conforme Maíra, a investigação do feminicídio da Dulci já foi encerrada e Vicente encontra-se preso preventivamente, mas por enquanto internado em estado grave na Santa Casa, por também ter sofrido queimaduras e inalado gás.

Assim como no caso de Dulci, a vítima Fabiana Lopes dos Santos, 37, morta por Wantuir Sonchini da Silva no dia 4 de dezembro também já havia solicitado medidas protetivas contra o autor, explicou a delegada Anne Karine. “Em 2018 em virtude das brigas e agressões físicas, a Fabiana decidiu se divorciar do Wantuir, e registrou dois B.Os, além de solicitar medidas protetivas que foram deferidas. A partir de então a família dela e ela não queriam contato com ele.

“Insatisfeito, Wantuir foi até a casa da mãe da Fabiana e no dia 25 de dezembro de 2018, ele a matou asfixiada, foi preso preventivamente, cumpriu medida de segurança e foi solto dia 18 de setembro de 2020. Quando ele foi solto ele foi procurar a Fabiana para reatar o relacionamento, eles se encontraram duas vezes, mas a Fabiana não queria se relacionar com ele, então veio até a Deam para registrar um B.O no dia 19 de novembro por ameaça e perturbação da tranquilidade, pois o autor falava que se ela não ficasse com ele, ela não ficaria com mais ninguém. Ela solicitou medidas protetivas novamente, no dia que ele foi intimado dessas medidas que foi dia 4 de dezembro, por volta das 15h ele não estava na casa dele quando o oficial de justiça chegou”, detalhou Anne.

A família avisou Wantuir sobre a medida, ele ficou na casa dos pais nesse dia, porém os pais saíram para o supermercado e quando voltaram por volta das 19h o Wantuir já não estava mais. Ele foi até a casa de Fabiana, ficou aguardando a chegada dela e quando ela chegou, ele já estava com uma faca e a obrigou a acompanha-lo até o local onde ela foi assassinada com 19 facadas.

As delegadas ressaltam que apesar desses dois homicídios, outros 31 ocorreram no Mato Grosso do Sul, dos quais 11 foram na capital, e apenas 3 das vítimas chegaram a prestar queixa na delegacia. 

O número é maior que o do ano passado, e o fato da pandemia de coronavírus ter deixado muitas pessoas em casa pode ter contribuído para esse aumento, conforme resposta da delegada Anne Karine à pergunta do JD1 Notícias. “Com certeza, o fato dos casais terem que ficar mais tempo juntos, e as vezes eles não terem uma relação boa, pode acabar gerando mais briga. Além disso aumentou o consumo de bebida alcoólica, que não justifica, mas influencia sobre a agressividade”, apontou.

Conforme dados levantados na coletiva em comparação com o ano passado o número de feminicídios no Estado de janeiro a outubro cresceu cerca de 22% sendo 24 feminicídios ocorridos em 2019 e 31 no mesmo período de 2020.

Ainda segundo levantamento do Mapa do Faminicídio elaborado pela Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres, no ano de 2019 ao todo foram 30 feminicídios em MS, número já ultrapassado dia 4 de dezembro de 2020. “A gente percebe que houve um decréscimo no registro de ocorrência, mas não deixou de ter violência, e os crimes passaram a ser mais graves”, e as delegadas orientam. “A Casa da Mulher Brasileira permanece aberta por 24h, nós não paramos em época nenhuma da pandemia, temos uma delegada plantonista e uma equipe todos os dias para a realização de B.O. É muito importante que toda mulher vítima de violência doméstica ou crime sexual procure a delegacia. Procure a DEAM, não se cale”, finaliza Anne Karine.

Com informações do site JD1!