Ex-governador de Mato Grosso do Sul Reinaldo Azambuja (PSDB) concedeu, com exclusividade ao Correio do Estado, sua primeira entrevista depois de quatro meses longe do cargo. Na conversa, ele falou sobre a possível candidatura ao Senado em 2026 e também sobre o nome do deputado federal Beto Pereira, que, no momento, é o candidato do partido na disputa pela Prefeitura de Campo Grande em 2024.
Como presidente estadual do PSDB, ele ainda revelou que, se até o fim deste ano o partido passar de 40 prefeitos filiados, será um bom número, pois terá mais da metade das prefeituras de Mato Grosso do Sul. Reinaldo Azambuja também projetou que o governador Eduardo Riedel (PSDB) deve fazer uma administração muito melhor do que a dele.
O presidente estadual do PSDB garantiu que a relação com o PP da senadora Tereza Cristina está muito boa. Ele também não descartou ter um candidato a vice-prefeito da Capital do partido aliado. Confira a entrevista.
O senhor pretende sair candidato a senador pelo PSDB em 2026?
Eu penso que acabei de terminar um processo. Foram 26 anos ininterruptos de vida pública, e ainda consegui fazer o meu sucessor no governo, elegendo um candidato, até então, praticamente desconhecido. Por isso, a minha candidatura ao Senado em 2026 vai depender muito de como vai caminhar a política até lá. Temos de esperar agora um pouco, e costumo dizer que, para chegar a 2026, primeiro temos de passar por 2024. Digo isso porque a gente tem de respeitar muito a força das lideranças locais, aquelas lideranças já constituídas, bem como as novas lideranças que estão surgindo na política. Por isso, penso que é muito prematuro falar qualquer coisa sobre uma candidatura ao Senado ou a qualquer outro cargo eletivo em 2026.
Mas, agora, a minha missão, como já disse ao governador Eduardo Riedel, é ajudar a cuidar da parte política do PSDB e também dos aliados, pois temos vários partidos que estiveram conosco na eleição para governador. Vou cuidar um pouco mais de perto do PSDB com os partidos aliados, pois não é só o PSDB, temos de conversar, por exemplo, com o PP da senadora Tereza Cristina.
O deputado federal Vander Loubet tem falado que vai sair candidato a senador em 2026 e que pretende fazer uma “dobradinha” com o senhor. É isso mesmo?
Olha, eu vou cuidar primeiro de 2024. Eu não vou discutir 2026 com uma distância de tempo tão grande, até porque qualquer coisa que falar agora pode mudar no próximo ano. Precisamos primeiro discutir as composições políticas nos municípios para 2024.
Falando em 2024, o PSDB vai ter candidato a prefeito de Campo Grande?
Eu acho que é possível, sim, e, por enquanto, o nome forte é o do deputado federal Beto Pereira, mas, quem sabe, não surgem outros nomes, porém, hoje o nosso candidato é o Beto. Então, eu penso que já está pavimentado dentro do PSDB que na Capital o nosso nome é o Beto Pereira. Porque ele está dialogando com todas as instâncias do partido, conversando com todas lideranças.
E o nome do Carlos Alberto de Assis? Ele também se colocou à disposição do partido para ser candidato a prefeito da Capital.
Ele e o Beto estão conversando, mas o Carlos Alberto está presidindo a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos [Agems]. Ele falou para mim que o foco é transformar a Agems na melhor agência de regulação do Brasil, e, neste início de trabalho, está conseguindo isso, apresentando um belo desempenho.
É possível uma aliança com o PP na disputa pela Prefeitura de Campo Grande?
Isso nós vamos discutir com os aliados. Quando a gente optou pelo Barbosinha para ser o vice do Riedel era porque o PP estava na conjuntura do aliado mais próximo na época e, também, casou de ser um bom nome e representar uma região importante, que é a grande Dourados.
Na questão dos aliados, como está a relação com o PP da senadora Tereza Cristina, que saiu na frente nessa questão de filiação de prefeitos?
Vamos dizer assim, a mudança de partido ou a filiação para uma outra legenda vai muito além das questões locais. Às vezes, temos algumas brigas locais e os próprios prefeitos buscam migrar para outra legenda para facilitar a montagem, vamos dizer, do seu projeto para futuro. Agora, a filiação do prefeito Toninho da Cofap, de Inocência, ao PP foi tranquila. O Toninho é parceiro do Eduardo Riedel, ajudou na eleição dele, e não vai atrapalhar em nada a filiação dele ao PP.
Agora, existe uma disputa, todos os partidos estão se movimentando para atrair prefeitos para as suas fileiras e nós também estamos conversando com várias lideranças que estão no partido e outras que não estão para montar o nosso tabuleiro para 2024. Não temos nenhuma briga com o PP, e, recentemente, até conversei com a Tereza sobre isso. Na eleição de 2020, por exemplo, eu e a Tereza Cristina sentamos para tratar das eleições municipais e ela disse que em alguns municípios disputaria com o PSDB, mas, se o candidato do PSDB ganhasse, o partido dela também ganharia. Por isso, em 2024, em alguns municípios, o PSDB e o PP vão caminhar juntos, enquanto, em outros, há diferenças locais que vão impedir isso e a gente tem de respeitar, pois é normal.
Lideranças do PSDB têm dito que o objetivo é encerrar 2023 com 49 prefeitos filiados. Essa é a meta do partido?
Temos vários prefeitos conversando comigo, conversando com o Sérgio de Paula [secretário-executivo do Escritório de Relações Institucionais e Políticas de Mato Grosso do Sul, em Brasília] e conversando com o Eduardo Riedel. Muitos não querem ficar na atual sigla porque têm mais identidade com outra. Um exemplo é a prefeita de Campo Grande, Adriane Lopes, que, com a fusão do Patriota com o PTB, pode não continuar no novo partido que será criado. Então, esse momento é de mudanças partidárias, e elas vão acontecer. As peças vão se movimentar até a janela do ano que vem, quando será aberta a possibilidade de troca de partido para os integrantes do Legislativo.
Agora, essa meta de 49 prefeitos filiados ao PSDB até o fim do ano é muito alta, considero muito arriscada. Acredito que a gente ultrapasse os 40, acho que tem chances e que é um bom número. Teríamos praticamente a metade dos prefeitos de Mato Grosso do Sul em um só partido. Porém, o PSDB não é um partido que só ele quer crescer, a nossa meta é crescer, mas deixar os aliados crescerem também, os parceiros, aqueles que ajudaram na eleição do Riedel.
Como está a relação do PSDB com o MDB? Pode reacender aquela velha aliança?
A gente sempre teve um ótimo relacionamento com MDB. Eu converso bem com todas as lideranças do partido, com o deputado estadual Junior Mochi, que é o presidente estadual da legenda, com o deputado estadual Renato Câmara e com o deputado estadual Marcio Fernandes. Também voltamos a conversar com o ex-governador André Puccinelli, com ex-senador Waldemir Moka, que são lideranças que a gente respeita muito. Então, é possível que a gente consiga pavimentar uma parceria, que já tivemos no passado e podemos ter no futuro.
Qual o perfil de candidatos de outros partidos que o PSDB pretende apoiar em 2024?
Vamos apoiar aqueles que têm compromisso com as políticas públicas que nós defendemos nos últimos oito anos. Precisa cuidar do social de forma correta, fazer gestão para melhorar a vida das pessoas porque hoje o grande problema do chefe do Executivo é quando ele não faz uma gestão responsável. Ele acaba prejudicando a cidade e acaba prejudicando o próprio cidadão. Então, eu penso que hoje em dia é muito mais fácil você fazer política de resultado.
Um exemplo disso é que nunca na história de Mato Grosso do Sul tivemos um candidato a governador com apoio de 73 prefeitos. Isso demonstrou que nós governamos ouvindo, dialogando e trabalhando com os municípios. E funcionou bem. A forma que nós tratamos os prefeitos também funcionou politicamente porque eles foram cabos eleitorais e foram a campo pelo projeto do Eduardo Riedel.
Falando em gestão, o senhor saiu do cargo de governador com mais de 70% de aprovação. Agora, Riedel acabou de completar 100 dias à frente do Estado e já aparece com 78,49% de aprovação. Qual a avaliação do senhor a esse respeito?
Eu disse na campanha eleitoral do ano passado que o Eduardo Riedel faria uma gestão melhor do que a minha, até pelas circunstâncias em que deixei o governo. O Estado está organizado, a perspectiva de crescimento é real, MS vai crescer, vai ter emprego, vai ter oportunidade e dará para o governador fazer uma boa parte social, inclusive, ele já manteve os programas sociais criados na minha gestão, como o Mais Social e o Conta de Luz Zero.
Além disso, nós fizemos uma boa regionalização da saúde, porque penso que o grande desafio agora será completar toda a regionalização da saúde no Estado, com os polos regionais de saúde funcionando bem, atendendo bem e fazendo média e alta complexidade.
Então, eu tenho a expectativa de que ele terá condição de, nos próximos quatro anos, fazer um governo até melhor do que aquele que nós entregamos para ele. Afinal, quando assumi o governo, peguei de cara uma crise econômica, foram três anos da pior crise econômica da história do Brasil, que foram os anos de 2015, 2016 até meados de 2017. Quando começou uma retomada, veio a pandemia da Covid-19. Aí nós pegamos dois ano e meio de pandemia. Então, dos oito anos, nós pegamos cinco anos e meio em crise ou econômica ou sanitária. Imagina conviver com pandemia, não sabíamos o que aconteceria, não sabíamos o que era o vírus, quantas vidas nós perderíamos. Então, assim, eu acho que ele tem condições de fazer um governo muito melhor do que o meu.
O PSDB vai ter candidato a prefeito nas principais cidades de Mato Grosso do Sul?
Teremos candidaturas fortes nas cidades maiores, mas com olhar também para as pequenas. Porém, queremos utilizar o Instituto Teotônio Vilela [ITV], que é o núcleo de formação Política do PSDB, para formar gestores, ensinar a fazer gestão e a fazer política pública para melhorar a vida das pessoas. Não adianta ficar só fazendo política. Eu entendo que, aquele gestor que não fizer o dever de casa, a população naturalmente vai tirá-lo. Isso é natural. Aquele que não for um bom gestor, pode até ser um bom político, mas se não for um bom gestor, que não implantar programas, que não fizer política pública, que não cuidar de quem não dá conta de se cuidar sozinho, com certeza, vai fracassar nas ruas. Aqueles políticos que não tiverem como foco fazer gestão pública de qualidade, eu acho que a própria população vai exclui-los.
Não dá mais para você ficar aqui fazendo só política e esquecer que precisa fazer gestão. Na saúde, a atenção básica tem de funcionar, posto de saúde tem de ter médico, tem de ter remédio, tem de ter atendimento, tem de ter infraestrutura, tem de ter a limpeza da cidade, tem de ter iluminação pública, tem de ter tapa buraco, isso é o básico. Seu Lúdio Coelho[ex-prefeito de Campo Grande] falava muito isso para mim, daquele jeito simples dele: a gente tem de administrar uma prefeitura igual administramos a nossa casa, você tem de dar conta do básico da sua casa.
Os gestores municipais – isso serve para todos aqueles que podem tentar a reeleição – precisam ter um perfil de quem vai enfrentar os desafios, como eu enfrentei. Fiz uma reforma da previdência duas vezes, e para quê? Para ter equilíbrio, porque não se pode gastar mais do que você arrecada, caso contrário, não sobra para você investir. Então, se você for só um pagador de folha, você não vai ter nada. Por que o Estado mudou de patamar? Nós conseguimos reformar a previdência, fizemos uma reforma administrativa, uma reforma fiscal que deu capacidade de arrecadar bens. Mesmo perdendo a tributação sobre o diesel e a gasolina, a gente conseguiu manter um bom nível de arrecadação. Graças a quê? A uma boa estrutura fiscal do Estado.
PERFIL
Reinaldo Azambuja
Nascido em Campo Grande, no dia 13 de maio de 1963, Reinaldo Azambuja é um agropecuarista e político brasileiro. Atualmente, é presidente estadual do PSDB e foi o 11º governador de Mato Grosso do Sul, de 1º de janeiro de 2015 a 1º de janeiro de 2023. Anteriormente, atuou como deputado estadual (2007-2010), deputado federal (2011-2014) e prefeito de Maracaju (1997-2004).
Fonte: Correio do Estado